10 de março de 2011

e teve um tempo.

que não era tão tempo. era mais lugar. ou mais estado.

e esse tempo corria. ou parecia que gostava de correr.

e ele ia e vinha. sem ser tempo. sem estar parado.

daquele tipo de sensação que se sente quando o sol bate no piso gelado da varanda. depois de uma noite sem sono.

e teve um tempo em que eu escrevia.

24 de julho de 2009

21 de julho de 2009

O coração palpita
Eu te dou um palpite
Pegue uma faca afiada
Sente na calçada
E faça uma calopsita.

30 de janeiro de 2009

Assim que o mundo cair, você estará do meu lado. Nada como o ar retido nas paredes descascadas pelas mãos aflitas dos contidos. Se alguém um dia me perguntar qual foi a lição aprendida durante o martírio, responderei sem palavras, sem sons e sem divagações. Terminado o lamento, revogado a força interior do seu batimento cardíaco, não pensarei nas entranhas, me concentrarei no coração. Não recordarei os recortes consumidos pelo fogo baixo e lento do fogão. Concentrarei-me na panela e no caldo ralo, borbulhante. Desanimado, forte, impassível, mas desmotivado. As nobres palavras cozidas, moídas e transportadas por guindastes em containeres, empilhados aos montes nos portos seguros e tranqüilos da terra firme. A água ensandecida reverberará no cais o temor e o tremor das idéias, contrastando levemente com a placidez astuta e assustada daquele rapaz. Quando eu cair, o mundo vai estar do meu lado e você me salvará.

28 de julho de 2008

1 de julho de 2008

o que acontece não acontece.

eu não acredito em espelhos e nunca vi isometria espacial.

ainda bem que as imagens não podem ser sobrepostas.

5 de junho de 2008

paisagens lunares

.

duas formigas sozinhas no mesmo azulejo
desnorteadas e desesperadas
no saara branco do meu banheiro

.

4 de junho de 2008

29 de março de 2008

The Mathematical Limit of Strawberry Fields

5 de março de 2008

ursos, touros e puppy porn

(foto tirada por eme)


transcrição de parte de uma conversa no msn entre eu, czarina e mãos coloridas.

[quarta feira, 5 de março de 2008, por volta das 17:45)

.mirella. diz: eu não
¬ jota diz: então quem foi?
¬ jota diz: bom, eu ia fazer um poema de ursos e touros
¬ jota diz: mas meio que desisti
N. diz: ursos e touros
N. diz: comem besouros
N. diz: besouros são fortes
¬ jota diz: besouros são quentes
N. diz: vencem a morte
.mirella. diz: e negociam ouro
N. diz: morrer é bizarro
N. diz: rolem no barro
N. diz: o barro é quente
.mirella. diz: parece um mouro
N. diz: e gruda no dente.
mirella. diz: um estouro indecente
N. diz: vestido de couro
.mirella. diz: meus sais!
.mirella. diz: encontrei um tesouro!
N. diz: o premio do show de calouros!
¬ jota diz: ótimo vai pro blog
¬ jota diz: obrigado e volte sempre
.
(e é esse tipo de atividade produtiva que deve ser feita durante o horário comercial)

10 de fevereiro de 2008

da contagem regressiva até o lançamento.
nós fazemos o mundo girar.
da propulsão de naves espaciais até pedaços microscópicos de carbono e silicatos.
esperamos a terra parar.

22 de janeiro de 2008

desfocar

entre as banquisas e o continente
mesmo com o aquecimento global
elas caçam solitariamente
e só se reunem para acasalar

19 de janeiro de 2008

assobiando

uma nuvem elevada incandescente
nivela o topo da terra do viajante
e depois de mil voltas
um canto o traz para sua porta
sem pessoas, sem surpresas
sua calma se contrasta com os rasgos da jornada
ele apagou da memória todas as possibilidades
pegou sua jangada
dormia e acordava com a reunião da desordem
e no alto da parede, uma vela
diminuindo a pretensão do relógio da noite
aposta e oposta
como um sonho

28 de dezembro de 2007

4 de dezembro de 2007

o poema de uma frase só *

mandaram uma mensagem
em uma garrafa
ela era castanha
ela sabia que sim
eram numerosos tijolos
uma merreca e um marreco
uma cabeça rolando na ladeira
um menino de verdade de madeira
era um sol e uma estrela
num navio de remos tortos
transformando água em vinho
eu manchei meu terno de linho
amigo, eu tenho um amigo.

* poema concebido juntamente com a czarina. uma frase por dia (sendo que esses dias não foram exatamente seqüenciais).

19 de novembro de 2007

araçariguama


araçariguama, upload feito originalmente por aracariguama.

e precisa dizer muito mais?

22 de setembro de 2007

Ditado

Nas regiões glaciais as noites são muito longas.
Atravessei o campo do preguiçoso e achei-o coberto de urtiga.
Os primeiros instrumentos de música foram inventados por Jubal, filho de Caim.
O Imperador Tito julgava perdido o dia em que não beneficiava pessoa alguma.
Um vento fortíssimo despedaçou as velas do frágil barquinho que dificilmente se sustentava no mar encrespado.
O castor tem a cabeça quase quadrada, as orelhas curtas, os olhos pequenos, os dentes pontudos e afiados.
Antônio contemplava o céu aveludado enquanto Isabel, encostada em uma palmeira, olhava a correnteza do rio murmurando uma trova.
O grande conquistador Alexandre teve por fiel companheiro de suas gloriosas guerras o cavalo Bucéfalo que pereceu na última campanha.
Vi um pobre homem, vergado pelo peso da idade, coberto de andrágios e apoiado sobre uma muleta, arrastar-se ao longo do muro do palácio.
A velha comeu alguns bagos do cacho de uvas que o neto lhe escolheu e pôs nas mãos, bebeu um trago de vinho e ficou quieta.
A noite se aproxima, os animais domésticos recolhem-se aos seus estábulos, os pássaros voam para seus ninhos, os homens cessam seus trabalhos e o silêncio reina na natureza.
Os sábios deram ao leão o título de rei dos animais, que ele justifica por sua grande beleza, aspecto temível, força imensa e coragem superior a todos os outros animais.
A caça era outrora uma das diversões prediletas dos fidalgos, guerreiros e damas, comprazam-se em perseguir pelas matas os rápidos veados e as trombetas e buzinas celebravam a morte do pacífico animal.

7 de setembro de 2007

proteção

as rubras telhas
as janelas azuis
o jardim perdido
a seca samambaia
a caixa d'água sem água
a calha enferrujada
o abandonado quintal
aquele ser esquecido.

o que será do telhado da casa?

23 de agosto de 2007

O moço simpático
se soma ao passado
e ajuda o retrato
do moço malvado

O poço escuro
virado ao contrário
tem água na boca
e fogo no fundo

O porto sem barco
aporta uma porta
comporta um navio
de geladeiras

O vento gelado
assopra

14 de julho de 2007

A impaciência da parede.

Os dedos percorrem sua superfície alternadamente.
Um rapaz solitário espera a garota com um nó na gravata e na garganta.
Os pés acelerados agora são planta.
E quando ela finalmente chega, ela não chega.
O olhar de farol se desencanta.
E toda vez que ele pisca, ela passa. E quando ela passa, ele desvia o olhar.

6 de julho de 2007

Leve

Eu já vi uma tonelada de tranqueiras.
Já ouvi britadeiras
e batedeiras.

Concreto moído com pó de tijolo.
Deserto vermelho e brilhante.

Árido e seco, desagradável.
Existe um clamor por um pouco de lágrima-sangue.
O andarilho procura um punho cerrado
e não pretende se esquivar.

14 de junho de 2007

quilogramas e joules

Ela suspira vagarosamente e a porta bate.
Deita no canto quando o cachorro late.
O homem assobia e nada acontece.
Aquela pequena estrela, a primeira.

O desejo vai demorar um bom tempo até chegar lá.

Mesmo que a pluralidade do tempo na teoria da relatividade seja paralela as diferentes contrações da duração bergsoniana.

4 de junho de 2007

Somos jovens há mais tempo.

Uma cabeça.

Coluna ereta, olhos compenetrados, determinação inabalável.

Ele vai deixando tudo pelo caminho, põe a mão no seu bolso vazio e joga o que encontrar na estrada. Como um rastro de migalhas de pão. Uma viagem pequena, mas extraordinariamente inexplicável.

28 de maio de 2007

22 de maio de 2007

Seu último dia e as pessoas não paravam de falar. Parecia um ritmo de mambo, um batuque ligeiro que tomava conta das línguas aceleradas e inquietas. Todo mundo falava, mas ninguém se entendia. Sua atenção era lançada para o alto, ricocheteando nas paredes, nas palavras soltas e sempre que voltava era rebatida violentamente pra longe dali.
Quando dou um passo não movo o chão. Não arrasto o mundo, como um elefante equilibrista.

3 de maio de 2007

Três sentados em roda
feito um triângulo,
mas que roda.

Um sentado de perna cruzada,
como uma estátua,
e só olha.

14 de abril de 2007

10 de abril de 2007

Vamos conversar com postes.

Usar armaduras cintilantes
e riscar a pintura dos carros.
Inventar o telégrafo e o telefone,
tudo no mesmo dia.
Vamos cavalgar com o vento,
atirar em caubóis e búfalos.
Vamos dormir em pilhas de periódicos,
usar jornal como cobertor.
Descobrir o fogo,
acordar no meio da neve.
Vamos saquear os museus.

Eu existo.

Eu nunca tive um espelho quando menino, perdi meu reflexo muito cedo. Mas minha sombra estava lá, pelo menos quando havia alguma luz por perto.

14 de março de 2007

Pássaros Pretos

Eu tinha um Trinca-ferro que achava que era um Pássaro-preto.

Ele não costumava fugir
e sempre desamarrava meus cadarços.

Adorava jiló
e cantava um canto azul e solitário.

Quando eu saia, ele batia as asas
e tentava voar.

8 de março de 2007

pólos

menos mais menos é igual a mais. menos mais mais é igual a menos. bom, pelo menos um pouco mais.

Sem sono

A bandeira de um barco pirata se transformava em uma cortina de um teatro abandonado. Um grito congelado, rasgando o ar sólido, vai derretendo tudo o que está lá dentro.

A lona rasgada de um circo se convertia em um vestido de luto no chão. Duas mãos somadas a duas mãos, vão rasgando o pano, desnudando e deixando a água tocar a pele daquela moça de sorrisos de Monalisa.

O céu negro se estendia e balançava com o vento das montanhas.